sexta-feira, 2 de maio de 2025

Apodi capital da água mineral - cinco anos depois

Foto: Centro de Apodi. Pipeiros se encontravam em reunião na prefeitura.

Apodi, água para que te quero? Apodi com seu território municipal de destaque no mapa do Rio Grande do Norte, o que representa 3,0344% da superfície estadual, e também, no potencial do seu lençol freático potável, além da barragem de Santa Cruz de Apodi, dos rios intermitentes Apodi, Umari e a lagoa, que no passado sucumbia a sede nas estiagens, nos faz receber a denominação de – Capital da Água Mineral. Orgulho bairrista, não?

Tem mais, o potencial hídrico subterrâneo, da chapada, segundo os mais velhos diziam que é o equivalente ao volume d’água de duas baias da Guanabara. Não é à toa que grande obra de canalização, em fase de conclusão, partindo do poço do sítio Forquilha vai abastecer a cidade de Mossoró.

Oficialmente para tanto existe decreto, a Lei Ordinária nº 10.710/2020, reconhecer tal recurso hídrico no fornecimento de água mineral, por ser grande exportadora, abastecendo várias cidades do Oeste norte-rio-grandense e de outros estados próximos. Nas fases críticas das secas avassaladoras, atingindo os rebanhos de gado bovinos, caprinos, ovinos e o plantio, o pior de tudo é a falta d’água para saciar a sede humana, Apodi é a fonte supridora. Contudo na lei tudo é fartura, bonito e maravilhoso por ressaltar o valor de Apodi, realmente, onde se veem dezenas de carros pipas pela cidade mudando o visual comum do fluxo rodoviário e adutora interligando cidades circunvizinhas. "Dai água a quem tem sede" o Apodi exerce este ato de caridade bíblico, mas cede no tocante a petição "E venha a nós, e ao nosso reino nada", ou melhor esclarecendo, toma lá, me dê cá! Encha o pote alheio, mas deixe o meu cheio. Mas, água para que te quero mesmo, se na própria cidade o sistema de fornecimento d’água costuma entrar em pane trazendo prejuízos e incômodos para parte da população por má distribuição ou pela falta dela nas torneiras das casas por vários dias consecutivos. É aí, de um lado, muitos de condições se utilizam da alternativa de comprar água aos pipeiros, além de pagar à CAERN mensalmente, por outro lado, já que os que não podem pagar por corroer o parco orçamento nem se socorrer da lagoa pode, não serve para o consumo humano, como antes. Ora, a problemática se arrasta por longo tempo, desde que a Companhia de Água e Esgotos do Rio Grande do Norte – CAERN, empresa estatal, se estabeleceu no Apodi, por volta de 1975, se continua com a mesma ‘solitária’ caixa d’água suspensa, armazenando o mesmo volume de água. A cidade cresceu e por conseguinte o número de habitantes aumentou significativamente, nos anos 70 o censo (IBGE) registrava 21.056 habitantes, no último censo, 2024, se conta 37.390 viventes consumindo água, sem a construção de novas caixas suspensas para armazenar e no eventual enguiço dos motores-bombas não afetaria a distribuição pelo o acúmulo reserva da água. Até então as alternativas implementadas pela companhia estatal, não priorizando por caixas d’água, não mostrou ser ação profícua, a solução não veio conjuntamente.

No mundo de hoje vivenciamos os avanços tecnológicos e não vem ação estruturante para o sistema de abastecimento de Apodi, sai e entra governantes e tudo continua como antes no quartel de Abrantes, emperram o progresso e a qualidade de vida dos apodienses.

Descaso com o líquido fonte da vida que até foi tema da Campanha da Fraternidade, do ano de 2004, em defesa daqueles privados do consumo de água de qualidade, vale transcrever parte do objetivo geral da C.F.:

“...é conscientizar a sociedade de que a água é fonte da vida, uma necessidade de todos os seres vivos e um direito da pessoa humana, e mobilizá-la para que esse direito à água com qualidade seja efetivado para as gerações presentes e futuras”.

Volto a repetir – água para que te quero se não usufruímos o quanto e como se deveria pôr a termos em abundância? Ainda, o que a CAERN nos dá em recompensa por monopolizar o nosso riquíssimo manancial? O que o Apodi tem ganhado em troca? Respondo eu, se não um singelo título no papel já esquecido e amarelado em algum diário oficial!

O sistema de fornecimento d’água é um tanto precário por não ser suficientemente capaz de atender à cidade, no Apodi nunca deveria faltar água nas torneiras das casas por mais de 24 horas, água se tem, o que falta é a estrutura física com reserva de grandes volumes d’água para comportar o consumo nos momentos de pane do maquinário. Mas o que fazer? Municipalizar o abastecimento à exemplo de outros municípios Brasil à fora, para tanto precisaríamos de um chefe do executivo de pulso forte ou se não, pelo menos para que se exija o que nos falta para se ter um bom atendimento, com isso, o Apodi fazendo jus ao título que lhe fora dado. Embora os prós e os contras à municipalização da companhia de água surgirão, melhor se aprofundar na causa e se teríamos ônus inviáveis ou bônus com retorno ao município a médio ou a longo prazo, claro que há necessidade de um estudo técnico/econômico por uma empresa idônea.

Não vamos esquecer que a CAERN tem uma grande dívida para com Apodi desde 1975, juntamente com a PLANASA, BNH e Ministério do Interior por ter escolhido Apodi para ser a milionésima cidade do Brasil a ser saneada (ver livro: Atuação Parlamentar do Deputado Dalton Cunha, 1977), de lá pra cá, relegaram a tão sonhada obra e ficou só, mais uma vez, no papel. 50 anos se passaram, nem lembranças o apodiense tem mais do tal fato noticioso. Esse fato real foi anunciado amplamente, eu sou testemunha, nos cinemas de Natal, antes da projeção da película se passava trailer dos gols dos clássicos do futebol, o próximo filme a entrar em cartaz e noticia de grande repercussão nacional, e lá assistir a matéria com cenas da fachada da igreja e vários personagens da cidade. Quanto ao decreto, da sua publicação, que denominou Apodi Capital da Água Mineral, 5 anos transcorreram, aliás, precisamente se aniversaria neste dia 23 de março do corrente ano, nada amenizou, o caos da falta d’água é fato corriqueiro vivido por parcelas da população.

Declinando para o lado cômico, para amenizar a situação, que é problemática e séria, se não fosse irônico, seria trágico demais, entremeada de paradoxo que serviu até por parte do saudoso Silvio Santos no seu famoso programa de auditório, televisivo, lançou a seguinte pergunta qual a única cidade do Brasil que jumento toma banho com água mineral, e a resposta foi – Apodi. É trágico, a cidade conviver com a falta d’água, lagoa poluída; mais é risível, por se dá banho com água mineral em animais, quando se falta em milhares de cidades. Mesmo que seja normal para nós que a temos em fartura, mas há quem vaticina que a terceira guerra mundial será pela busca da água!

Decerto a CAERN era para ter construído caixas d’água suspensas por diversos bairros surgidos nas últimas décadas, ao invés de se optar por outras vias mais econômicas, mas não surtiu efeito esperado. O que nos falta aqui é o que fizeram muito bem em Mossoró com inúmeros reservatórios suspensos de grande capacidade de volume d’água. Caso contrário se insista no como estar, no descaso, devemos propor lei denominando Apodi Capital da lagoa poluída. Não é um contraste, um paradoxo, água mineral e água poluída por falta de saneamento?

A CAERN por obrigação deveria nos recompensar priorizando o abastecimento d’água sem interrupção e entregando o saneamento básico da cidade juntamente com a prefeitura e assim, zelar os nossos recursos hídricos nos dando qualidade de vida e saúde. O abastecimento de água é um direito fundamental, está na Constituição Federal. Para se conseguir de forma plena, resta-nos indignarmos e lutar!

Não se entristece não meu caro conterrâneo com a situação, há ainda poetas para nos entreter e dizer que você não está só:

“Ontem estava sonhando

Que muita sede sentia

Corri para beber água

A geladeira tava vazia

Foi grande agonia”.

(poeta Abaeté).

por NURIM DE BUGUE

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