A taxação em 50% dos produtos brasileiros anunciada pelo
presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na última quarta-feira (09), vai
afetar o setor produtivo do Rio Grande do Norte. Entre os produtos exportados
que serão mais impactados caso a tarifa entre em vigor estão o atum e pescados
de maneira geral, sal, petróleo e a fruticultura. Entidades do setor produtivo
e o Governo do Rio Grande do Norte se posicionaram nesta quinta-feira (10),
preocupados com a decisão do mandatário norte-americano. Eles apontam que a
taxação afeta investimentos, empregos e pode inviabilizar as exportações para
alguns setores.
Segundo dados do Observatório Mais RN, da Federação das
Indústrias do Estado (Fiern), as exportações totais do RN para os Estados
Unidos somaram US$ 67,1 milhões no primeiro semestre deste ano, um crescimento
de 120% no comparativo com o mesmo período de 2024, quando as vendas de
produtos potiguares aos EUA totalizaram US$ 30,5 milhões.
Em entrevista coletiva à imprensa nesta quinta-feira
(10), Roberto Serquiz, presidente da Fiern, disse que a taxação vai provocar
impactos significativos para a competitividade do Estado. Serquiz externou
preocupação especial com as exportações de petróleo, uma vez que esse produto
responde por 45% do PIB industrial do Rio Grande do Norte, com crescimento
significativo de vendas para o mercado americano no comparativo entre o
primeiros seis meses de 2024 e 2025.
“No ano passado, de janeiro a junho, as vendas de
petróleo para os Estados Unidos somaram US$ 4 milhões. Neste ano, foram US$ 24
milhões no primeiro semestre, liderando nossa balança comercial. Além disso,
outros setores perdem totalmente a competitividade, como o atum, cuja venda é
100% para os EUA. O sal também fica completamente sem competitividade. Esse
cenário é bastante preocupante. Esperamos um diálogo do governo brasileiro para
voltarmos a ter uma condição satisfatória”, afirmou Serquiz ao lembrar que em
abril o governo americano já havia taxado os produtos brasileiros em 10%.
Com o cenário que se desenha a partir do novo aumento
tarifário, previsto para ser aplicado a partir de agosto, as exportações do
pescado potiguar – atum e meca – ficam inviáveis, segundo o presidente do
Sindicato da Indústria da Pesca do Rio Grande do Norte (Sindipesca-RN), Arimar
Filho. “Nosso peixe é totalmente voltado para o mercado americano. Diante
disso, as empresas daqui já se adiantaram para antecipar o máximo os embarques
que podem ser agilizados àquele país”, informou o presidente.
As vendas de itens como melão e melancia aos Estados
Unidos também se tornarão inviáveis, de acordo com Fábio Queiroga, presidente
do Comitê Executivo de Fruticultura do RN (Coex). “As exportações desses itens
para os EUA representam cerca de 5% do que é vendido para a Europa, nosso
principal mercado, mas ainda assim há impactos de pequena magnitude, porque os
produtores estão receosos. Estamos na fase inicial de plantio da próxima safra
e a expectativa é reduzi-lo em cerca de 3%. Felizmente, teremos uma produção
10% superior à da safra passada, então, avaliamos esse impacto com sendo algo
menor”, explica Queiroga.
A indústria salineira potiguar também será impactada pela
taxação dos EUA. O presidente do Sindicato da Indústria de Sal do RN (Siesal),
Airton Torres, disse que 25% da produção salineira do Estado vai para o mercado
norte-americano. “Estamos muito preocupados com essa taxação. Se ela for
mantida, vai ficar totalmente impossível continuar exportando sal para os
Estados Unidos. Isso terá um prejuízo grande, se considerarmos que 25% de todo
o sal que sai pelo Porto Ilha de Areia Branca vai para os Estados Unidos.
Estamos falando de uma perda de mercado da ordem de 500 mil toneladas/ano”,
disse.
Para o vice-presidente da Associação de Empresas
Fornecedoras de Bens e Serviços para a Cadeia de Petróleo, Gás, Petroquímica e
Energia (RedePetro), Ubiratan Santos, o anúncio da tarifa é “preocupante” e
afeta a cadeia como um todo. “O mercado de óleo e gás precisa comprar muitos
produtos, principalmente dos Estados Unidos. Vai causar tanto na compra quanto
na venda. Mesmo os Estados Unidos não sendo um potencial comprador do nosso
óleo, mas vai afetar toda a cadeia”, disse.
Economista prevê alta na
cotação do dólar
Na avaliação do economista e ex-presidente do Conselho
Regional de Economia (Corecon-RN), Helder Cavalcanti, a taxação anunciada por
Donald Trump pegou a macroeconomia brasileira “de surpresa”, uma vez que o
Brasil está em superávit primário na balança comercial, estando entre os 10
maiores países na relação com os Estados Unidos.
“Isso significa que nós vamos ter grandes impactos. Essa
taxação vai refletir na subida do dólar, que consequentemente vai atingir
nossos supermercados, o combustível. É algo preocupante e o mercado já está com
muita incerteza e sinalizando com uma preocupação gigantesca. Essa medida
impacta e não é movida por nenhum fator econômico, sendo mais uma questão
política”, analisa.
Em relação ao Rio Grande do Norte, estado que tem uma
forte relação de exportação com o país norte-americano, Helder Cavalcanti
explica que a situação pode afetar investimentos e empregos. “Isso terá um
reflexo negativo também no emprego. Se o empresário diminui sua produção,
teremos menos dinheiro circulando e, consequentemente, chegaremos a ter
desemprego também”, cita.
Entidades do RN pedem
diplomacia
Para Luiz Roberto Barcelos, presidente da Associação
Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), o
setor vê a decisão do governo americano com muita preocupação. “Esperamos diplomacia
e bom senso para que as relações institucionais prevaleçam e possamos remover
essa barreira para a existência de um comércio justo com os Estados Unidos”,
comentou.
O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do RN
(Faern), José Vieira, explicou que alguns produtos, com a nova taxação, podem
alcançar tarifas de até 75%, fator que levanta bastante preocupação no mercado
exportador em razão dos reflexos significativos. “Os contratos de mercadorias
em negociação, sem sombra de dúvida, sofrerão impactos muito grandes, inclusive
até de cancelamento por parte do governo americano por conta da alta tarifa.
Por isso, essas questões precisam ser resolvidas de forma diplomática. A
Federação da Agricultura está bastante preocupada”, pontuou Vieira.
Marcelo Queiroz, presidente da Fecomércio-RN, diz ter
recebido o anúncio da tarifa comercial com surpresa e preocupação, destacando
que o mercado americano é hoje o segundo principal destino das exportações
nacionais. “A nova alíquota deverá deteriorar a balança comercial brasileira,
depreciando a taxa de câmbio e aumentando a inflação. Assim, o Banco Central
poderá entender necessário majorar a já elevada taxa básica de juros, ou
deixá-la em patamar elevado por mais tempo, com impacto direto sobre os
investimentos e custos de capital de giro para a atividade comercial”, avaliou
Queiroz.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) afirmou que a
imposição tarifária também foi recebida com preocupação e surpresa. “A
prioridade deve ser intensificar a negociação com o governo de Donald Trump
para preservar a relação comercial histórica e complementar entre os países. A
CNI reforça a importância de intensificar uma comunicação construtiva e
contínua entre os dois governos”.
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA)
afirmou que acompanha a decisão com atenção. “Esta medida unilateral não se
justifica pelo histórico das relações comerciais entre os dois países, que
sempre se desenvolveram em clima de cooperação e de equilíbrio, em estrita
conformidade com os melhores princípios do livre comércio internacional. Nossa
esperança é que os canais diplomáticos sejam intensamente acionados”.
Impactos
O secretário da Fazenda do RN, Carlos Eduardo Xavier,
afirmou que a medida pode trazer sérios impactos para os empregos. “Em setores
como pescado e sal marinho, as exportações para os EUA podem chegar a 70% e
isso deverá provocar um impacto devastador na geração de emprego do nosso
Estado”, disse.
A Secretaria de Desenvolvimento Econômico do RN pediu uma
atuação articulada com o Governo Federal e os setores produtivos. “As
exportações e importações para o mercado norte-americano têm participação
expressiva. Entre janeiro e março deste ano, o RN exportou US$ 26,2 mi para os
EUA, enquanto as importações somaram US$ 9,8 mi, resultando em um superávit de
US$ 16,4 mi na balança comercial bilateral”, disse a pasta.
Tribuna do Norte
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