quarta-feira, 16 de abril de 2025

Nordestinos já vivem a crise climática: 90% sentem o clima mudar, aponta pesquisa

O clima já mudou — e os nordestinos sabem e sentem isso. Para 90% da população da região, as alterações nas temperaturas, nas chuvas e nas secas não são previsão futura, mas realidade presente. É o que aponta a pesquisa Visão do Nordeste Sobre Mudanças Climáticas, realizada pelo Instituto Nexus, que ouviu mais de 1.200 pessoas e mostra um diagnóstico claro: o calor aumentou, a água sumiu e o futuro preocupa — especialmente entre os mais jovens, moradores do interior e pessoas com menor renda.

O estudo revela ainda que 96% dos participantes afirmam que suas cidades estão mais quentes, e 90% notam uma redução das chuvas, o que agrava a sensação de estiagem. As secas mais intensas foram observadas por 83% das pessoas ouvidas, enquanto 12% também relataram aumento dos alagamentos, sobretudo em áreas urbanas.

A preocupação com o tema é generalizada: 76% dos nordestinos classificam as mudanças climáticas como uma “crise” ou “um grande problema”. Essa percepção é ainda mais forte entre jovens de 16 a 24 anos (35%) e pessoas com ensino superior (39%), que veem o fenômeno como algo crítico e urgente.

Os eventos climáticos extremos de 2024 também marcaram a memória da população. Mais da metade dos entrevistados (57%) considera que esses eventos foram “piores” ou “muito piores” que o normal. As mulheres são as que mais sentiram esse agravamento: 64% delas relataram impactos mais críticos, contra 50% dos homens. E o cenário futuro não parece animador: 53% acreditam que, nos próximos cinco anos, os eventos extremos serão “muito mais fortes” ou “extremamente mais fortes”. Entre as pessoas de maior renda (mais de cinco salários mínimos), o pessimismo é ainda maior — 22% preveem impactos extremamente intensos.

O levantamento também evidencia desigualdades na forma como a crise climática é percebida. Pessoas com ensino superior e maior poder aquisitivo são as que mais enxergam as mudanças como uma crise (39% e 36%, respectivamente). A localização geográfica também pesa: quem vive no interior sente mais os efeitos da seca (86%), enquanto os moradores de capitais e regiões metropolitanas relatam com mais frequência os alagamentos (18%).

Gerações mais velhas tendem a demonstrar menor preocupação. Entre pessoas com 60 anos ou mais, apenas 22% veem o problema como uma crise, e 32% não souberam responder sobre o que esperam para o futuro.

A pesquisa ouviu um perfil diverso da população nordestina: 53% mulheres, 47% homens, com destaque para a população de baixa renda — 45% vivem com até um salário mínimo — e moradores do interior, que representam 69% da amostra. É justamente nessas regiões onde os efeitos da estiagem são mais sentidos.

Os dados mostram que o nordestino já vive os efeitos das mudanças climáticas na pele, especialmente os mais vulneráveis, aponta o relatório. A pesquisa reforça a necessidade urgente de políticas públicas adaptadas à realidade regional, onde o acesso à água e o calor extremo já fazem parte dos desafios cotidianos.

Os pesquisadores do Nexus entrevistaram a 1.216 pessoas, entre 12 e 17 de dezembro de 2024. A margem de erro da amostra em cada região é de 3,5 p.p, com intervalo de confiança de 95%.

Leia a íntegra da pesquisa AQUI


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