O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou agora dia 02/04 a implementação de tarifas recíprocas sobre produtos importados de diversos países, incluindo o Brasil. Essa medida segundo ele, visa equilibrar as relações comerciais, aplicando taxas equivalentes às impostas pelos parceiros comerciais sobre produtos americanos. Ou seja, a intenção na verdade é fechar o Gap das Balanças Comerciais com os países tarifados. Isso explica por que o Brasil recebeu apenas a alíquota-piso de 10%, é que eles são superavitários em relação a nós.
O setor agropecuário brasileiro, especialmente as exportações de etanol, carne e soja, será diretamente afetado por essas tarifas. Atualmente, os EUA aplicam uma tarifa de 2,5% sobre o etanol brasileiro, enquanto o Brasil impõe uma taxa de 18% sobre o etanol americano. Essa discrepância levou os EUA a importar mais de US$ 200 milhões em etanol do Brasil em 2024, enquanto as exportações americanas para o Brasil foram de apenas US$ 52 milhões no mesmo período.
Com a nova política de tarifas recíprocas, espera-se que os EUA aumentem a taxa sobre o etanol brasileiro para igualar a tarifa brasileira, o que pode reduzir a competitividade do etanol nacional no mercado americano. Além disso, Trump mencionou a intenção de ampliar as exportações americanas de carne e laticínios para o Brasil, o que pode pressionar ainda mais os produtores brasileiros. Já o café brasileiro deve ganhar mais espaço no mercado americano uma vez que concorrentes como o Vietnã (46%) e a Indonésia (32%) foram bem mais afetados pelas tarifas recíprocas.
Em resposta a estas medidas que podem prejudicar a competitividade brasileira, o Congresso Nacional aprovou no mesmo dia o Projeto de Lei da Reciprocidade Econômica. Esse projeto confere ao Brasil poderes para retaliar unilateralmente países que adotem políticas comerciais desfavoráveis aos produtos brasileiros, permitindo a imposição de tarifas equivalentes ou outras medidas compensatórias. Dentre esse novo arsenal o Governo brasileiro vai dispor de mecanismos de retaliação cruzada, suspenção de royalties, questionar requisitos ambientais mais onerosos do que os padrões de proteção brasileiros, etc.
As possíveis ações incluem:
• Imposição de Tarifas Equivalentes: Aumentar as tarifas sobre produtos americanos em níveis similares aos aplicados pelo governo dos EUA, visando equilibrar as condições comerciais, ameaçar a quebra de patentes de Empresas Americanas forçando estas a pressionar o Governo de Donald Trump a negociação com o Brasil (retaliação cruzada) e/ou suspender o pagamento de royalties a estas Empresas.
• Diversificação de Mercados: Buscar novos parceiros comerciais e fortalecer relações com outros países para reduzir a dependência do mercado americano.
• Negociações Diplomáticas: Engajar-se em diálogos bilaterais para reverter ou atenuar as tarifas impostas, buscando soluções que beneficiem ambos os países.
• Fomento à industrialização nacional: Com a possibilidade de tarifas sobre produtos americanos, o Brasil pode incentivar a produção interna de itens atualmente importados.
Não visualizamos um contra-ataque tarifário por parte do Governo brasileiro, apesar de agora ter novos instrumentos legais para isso, seriam medidas altamente inflacionarias. Porém, a vigem recente de autoridades ao Japão e ao Vietnã é válida no sentido de abrir novos mercados, bem como o fortalecimento do acordo de parceria entre o Mercosul e a União Europeia.
O dia seguinte ao “dia da libertação” de Donald Trump os mercados reagiram negativamente, com Petróleo caindo forte, Bolsas caindo forte, Dólar caindo forte e juros futuros também caindo, isso fez a Revista Britânica The Economist chamar de “dia da ruína”. No curtíssimo prazo esse conjunto de fatores favorece a Economia brasileira, reduzindo nossa inflação, abrindo novas correntes de comércio; ao mesmo tempo, a depender da habilidade do Governo Lula, podemos estar caindo em uma armadilha, se não adotarmos uma política fiscal contracionista, porém, a aproximação das eleições joga contra. É consenso entre nós Economistas que os EUA vão entrar em recessão no curto prazo e arrastar o resto do mundo junto, algumas projeções apontam uma queda no PIB dos EUA de algo em torno de -1,5%, com inflação avançando a +2%, enquanto que no PIB global a queda será da ordem de -1% em 2025.
Fato é que estamos todos desnorteados, ainda procurando entender o tamanho dos impactos sob vários setores e óticas.
Magno Xavier – Economista e Esp. Em Gestão de Empresas
Nenhum comentário:
Postar um comentário