A volatilidade dos mercados nesta semana praticamente nos obriga a dar sequência ao tema abordado na semana passada: a guerra comercial entre os Estados Unidos do presidente Donald Trump e o resto do mundo.
A Geração Z, a exemplo das anteriores, já tem sua própria hecatombe econômico-financeira global para chamar de sua. A nova Guerra Fria Comercial, declarada pelos EUA contra o restante do mundo — mais especificamente contra a China —, sem dúvida, mudará radicalmente a geopolítica e a economia mundial.
O que estamos acompanhando desde o “Liberation Day” (02/04/2025) é algo equivalente ao anúncio do fim do padrão-ouro por Nixon em 1971, quando o dólar deixou de ser lastreado em ouro e passou a flutuar livremente em relação a uma cesta de moedas — evento acompanhado pela Geração X. Ou, ainda, à queda do Muro de Berlim em 1989, que simbolizou o fim da Guerra Fria e o colapso do comunismo na Europa, culminando na dissolução da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), em 1991 — mudança acompanhada pela Geração Y (Millennials).
Naquele momento, impôs-se uma nova percepção: a de que, dali em diante, todas as nações seguiriam o Ocidente democrático e de livre mercado, e que viveríamos prósperos, de mãos dadas, cantando Imagine, de John Lennon. Ninguém imaginava, na euforia, que o socialismo — assim como um vírus — não havia de fato morrido, mas apenas encontrado um novo hospedeiro.
Por muito tempo, pareceu inerte. Coincidentemente, no início da década de 1990, iniciou-se o bônus demográfico da China, quando cerca de 600 milhões de chineses ingressaram na força de trabalho, migrando da zona rural para as cidades — ou para construí-las — impulsionados por trilhões de dólares em investimentos ocidentais, que vislumbravam um gigantesco potencial econômico com mão de obra quase gratuita. Todo mundo enriqueceu.
Com a infraestrutura construída, em 2001 a China ingressou na OMC. Tornou-se a fábrica do mundo; o sonho de toda grande empresa era instalar-se na China, com contínuos aportes do Ocidente. Isso intensificou o processo de globalização e impulsionou a agenda progressista — a um custo muito elevado para os EUA e a Europa, que passaram por desindustrialização e desemprego em massa. Para conter revoltas populares, esses países adotaram políticas econômicas keynesianas, imprimindo dinheiro e se endividando cada vez mais para consumir produtos chineses. Era uma verdadeira festa.
Mas houve um problema: aquele "vírus" transformou-se em um dragão. Ao invés de seguir o caminho da democracia, como Japão, Coreia do Sul e outros países, a China consolidou-se como uma brutal ditadura, com capacidade militar e intelectual suficiente para rivalizar — e até destruir — os EUA. Isso foi possível graças a décadas de protecionismo, espionagem, dumping, desrespeito à propriedade intelectual e outras práticas comerciais ilegais — financiadas, ironicamente, pelos próprios EUA.
Essa mudança de paradigma tornou o Ocidente mais progressista, com governos cada vez mais parecidos com o da China. E a China, por sua vez, com uma economia mais parecida com a ocidental, seguiu sob o comando firme do Partido Comunista, mantendo elevado protecionismo.
O primeiro líder ocidental a despertar para esse risco iminente de perda de soberania foi Donald Trump, ainda em seu primeiro mandato. O governo Biden manteve algumas tarifas contra os chineses, mas a população americana clamava por uma mudança mais agressiva na dinâmica comercial — tanto que reelegeu Trump. Ele respondeu a esse anseio com uma ampla e agressiva política tarifária, que, em um primeiro momento, funcionou como um blefe para trazer parceiros comerciais de volta à mesa de negociações. Com exceção da China, que já amarga tarifas de 145% — incluindo uma sobretaxa de 20% relacionada ao tráfico de fentanil. A China, por sua vez, retaliará os EUA com tarifas de 125% a partir de amanhã (12/04/2025) e já apresentou uma queixa formal à Organização Mundial do Comércio (OMC), acusando os EUA de práticas comerciais coercitivas e unilaterais.
Os “crashes” desta semana nos mercados ao redor do mundo precificam a crise econômica da nova Guerra Fria deflagrada por Donald Trump — com toda sua turbulência, rearranjos nas cadeias globais de suprimentos, nas dinâmicas de mercado e nas relações entre nações. Um verdadeiro processo de desglobalização (nearshoring).
Portanto, o período das vacas gordas acabou. É hora de apertar os cintos, pois essa nova realidade afetará cada ser humano no planeta por uma ou duas gerações, segundo especialistas. Ceteris paribus.
Mas o que se observa em todas as fases de mudanças radicais ou disruptivas é que sempre há oportunidades e ameaças. Como estão suas forças e fraquezas?
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