Por Rinaldo Remígio*
Há momentos na história de um povo em que os fatos
parecem falar mais alto que as palavras. O que temos assistido nos últimos
tempos – prisões decretadas, decisões revisadas, disputas jurídicas e
reviravoltas políticas – revela algo maior do que processos ou investigações.
Revela uma grande briga de poder. De um lado, vaidades inflamadas; de outro,
torcidas apaixonadas que já não enxergam o país, apenas o “seu lado”. E,
enquanto isso, o Brasil real segue vulnerável, esgotado, pedindo para respirar.
Vivemos uma era em que muitos não analisam, apenas reagem.
Não ponderam, apenas replicam. As narrativas deixam de ser fatos e passam a ser
bandeiras. E o resultado é um país partido, cansado e entregue a disputas que
não constroem, apenas consomem. A verdade é que estamos vendo paixões
desenfreadas substituírem o patriotismo, como se amar o Brasil fosse proteger
figuras, e não o futuro da nação.
Mas talvez seja hora de lembrar o que significa ser
patriota de forma verdadeira. Patriotismo não é idolatria. Não é cegar-se por
ideologia, nem erguer muros invisíveis para separar irmãos. Ser patriota é
desejar a pacificação do país. É reconhecer que cada governante, com virtudes e
defeitos, deixou algum legado. E admitir que todos falharam – e continuarão
falhando – porque a perfeição não pertence aos homens. A perfeição está
unicamente na pessoa de Jesus Cristo de Nazaré.
E é justamente no alto do Calvário que encontramos a mais
profunda lição para o tempo presente. Ali, Jesus, já crucificado, dividia a
cena com dois condenados. A cruz – esse símbolo tão humano e tão divino –
revelou a diferença entre arrogância e arrependimento. Um zombou; o outro
reconheceu quem era. E Cristo, em meio à dor, ofereceu dignidade e
misericórdia: “Hoje estarás comigo no Paraíso.” Não revogou sentença terrena,
mas mostrou que justiça e graça podem caminhar juntas.
Talvez seja esse o convite silencioso que paira sobre o
Brasil: recuperar a capacidade de refletir. Diminuir o barulho para ouvir o que
realmente importa. Entender que não se constrói um país com guerras
ideológicas, mas com diálogo, verdade, responsabilidade e paz.
Então, deixo uma pergunta simples, mas essencial:
Não é hora de pensarmos nisso?
Porque o Brasil precisa, mais do que nunca, de cidadãos
capazes de amar sua nação acima de suas torcidas. Capazes de enxergar que
nenhum líder é perfeito, nenhum projeto é absoluto, nenhuma ideologia é eterna.
O que permanece é a necessidade de paz. E a paz só nasce onde a verdade se
encontra com a misericórdia.
Quando olhamos por esse ângulo, percebemos: não faltam
culpados, sobram convites à reflexão.
E talvez seja justamente aí que começa a cura de um país
*Professor universitário aposentado e memorialista
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