A atividade eólica ajudou a ampliar a participação de
municípios como Lajes, Caiçara do Rio do Vento e Pedro Avelino no PIB | Foto:
Alex Régis
Felipe Salustino
Repórter
O Produto Interno Bruto (PIB) do Rio Grande do Norte
bateu recorde em 2023, com um volume de R$ 101,7 bilhões, de acordo com dados
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ainda de acordo com
o instituto, juntas, Natal, Mossoró, Parnamirim e São Gonçalo do Amarante
responderam por 50,8% do PIB potiguar no período. Economistas ouvidos pela
TRIBUNA DO NORTE avaliam que o setor de comércio e serviços foi o principal
responsável pelo resultado, com destaque também para a eólica onshore (em
terra), que ajudou a ampliar a participação de municípios menores, como Lajes,
Caiçara do Rio do Vento e Pedro Avelino no PIB.
Natal foi o município potiguar que mais ampliou a
participação no PIB entre 2022 e 2023. A capital passou a responder por 30,63%
da riqueza produzida no estado, com um Produto Interno Bruto calculado em R$
31,162 bilhões. O avanço representa um ganho de 1,32 ponto percentual em
relação a 2022, quando a participação era de 29,31%, e significa o maior
crescimento proporcional registrado no período entre os municípios potiguares.
É na capital onde, segundo o economista Ricardo Valério, comércio e serviços contribuíram
de forma mais concentrada para os números da economia em 2023.
“Também chama atenção para essa análise o fato de que as
capitais receberam maior aporte de recursos pela União naquele período para
investir em melhorias de infraestrutura”, frisa Valério. Em Parnamirim, de
acordo com o economista Robespierre do Ó, os serviços também foram o fator
principal de contribuição para o PIB. Já em São Gonçalo do Amarante e em
Mossoró, outros setores se destacaram, na avaliação do especialista.
“Em Mossoró, a gente tem a produção de petróleo, com a
venda de poços maduros; enquanto em São Gonçalo, o destaque vai para a
indústria e para a presença do aeroporto no município”, pontua Robespierre, ao
acrescentar que, na capital, além de comércio e serviço, o turismo também tem
um impacto importantes no PIB potiguar. O retrato muda quando o assunto são os
municípios de menor porte, mas que também conseguiram ampliar a participação no
PIB em 2023.
Estão nessa lista Lajes, Caiçara do Rio do Vento, Pedro
Avelino e Macaíba. “À exceção de Macaíba, nos demais municípios a instalação de
parques eólicos em terra – um dos maiores do Estado fica na região de Lajes –
está entre as principais razões para o desempenho apresentado pelo IBGE”,
afirma Ricardo Valério, membro do Conselho Regional de Economia do RN
(Corecon).
Já entre os municípios que reduziram a participação no
PIB, os destaques são Parnamirim, que apesar de estar entre as cidades que
concentraram a maior parte do Produto Interno Bruto, sofreu retração de 0,50
ponto percentual, a maior do estado. Mossoró, outro município com participação
importante, também registrou redução no PIB potiguar de 2023, junto a Guamaré,
Serra do Mel, Macau e Areia Branca.
Para Ricardo Valério, a queda registrada em Parnamirim
está ligada ao setor imobiliário. “Foi uma situação transitória de redução de
velocidade do crescimento imobiliário no município. Entre 2020 e 2022 o setor
se desenvolveu de forma muito acentuada, culminando em uma pequena redução em
2023, no pós-pandemia, mas que certamente está devidamente recuperado, porque,
na realidade atual, Parnamirim voltou a ser um verdadeiro canteiro de obras e
com crescimento vertiginoso”, analisa o economista.
Queda em commodities impacta
o RN
Em Guamaré, de acordo com Valério, a retração tem a ver
com as reduções de preço no refino para as commodities de petróleo e gás,
conforme aconteceu, segundo ele, em outros municípios brasileiros dependentes
da indústria extrativa, bem como pela queda na produção da Refinaria Clara
Camarão. Em Macau e Areia Branca, a queda deveu-se à menor produção e aos
preços mais baixos da indústria salineira, conforme explicou o especialista.
“Importante lembrar que o Porto de Areia Branca registrou movimentação mais branda
naquele ano”, disse Valério.
Em Serra do Mel, segundo ele, a questão também esteve
relacionada à redução de preços, mas de um produto diferente: a castanha de
caju. Mossoró teria sido afetada, diz o economista, pela baixa no setor
imobiliário, assim como ocorreu com Parnamirim.
Com os novos dados, houve mudanças no ranking das maiores
economias do estado. São Gonçalo do Amarante assumiu a quarta posição,
ultrapassando Guamaré, enquanto Macaíba passou à sexta colocação, trocando de
lugar com Assú. Macau deixou a lista dos dez maiores PIBs do RN.
Juntos, os cinco municípios com maior participação
concentraram 53,3% da economia estadual em 2023. “O avanço de São Gonçalo do
Amarante não deixa de ser uma surpresa, embora é notável que o município
registra crescimento populacional expressivo e teve a recuperação alavancada
pelo aeroporto. Em 2023, cinco municípios potiguares ficaram com PIB per capita
maiores que R$ 100 mil e encabeçaram o ranking dos maiores valores. Foram eles:
Guamaré, com R$ 168.808,24; Caiçara do Rio do Vento, com R$ 145.099,23; São
Bento do Norte, com R$ 119.507,48; Parazinho, com R$ 109.346,87; e Bodó, com R$
104.148,52. “O dado sobre Bodó é muito curioso, uma vez que se trata de um
município com menos de 2,5 mil habitantes. O desempenho tem a ver com a
exploração mineral em cima da xelita, agora de forma menor, mas principalmente
por conta do caulim. E, mais recentemente, temos também a chegada das eólicas
na região”, explicou Ricardo Valério.
NÚMEROS MOSTRAM DINAMISMO E
solidez da economia DO RN, DIZ SEDEC
Para o secretário-adjunto de Desenvolvimento Econômico do
RN, Hugo Fonseca, os números apresentados pelo IBGE apontam para o dinamismo e
a solidez da economia potiguar. Segundo ele, além de turismo e serviços, o
resultado foi impulsionado, sobretudo, pela indústria de transformação e pelo
setor de energia elétrica e gás. “Esses setores tiveram crescimentos
expressivos de 23,1% e 11,9%, respectivamente, refletindo tanto o avanço da
base industrial quanto a consolidação do RN como referência na cadeia de
energia, especialmente em fontes renováveis”, avaliou.
“O setor de serviços, responsável pela maior participação
no PIB, também apresentou desempenho positivo, apoiado pela expansão do
turismo, pelo fortalecimento do comércio e pela melhora do mercado de trabalho,
com geração de empregos formais e aumento da renda. Do ponto de vista
institucional, o desempenho econômico está diretamente associado às políticas
públicas de desenvolvimento adotadas pelo Governo do Estado, que têm estimulado
a atração de investimentos, o fortalecimento da indústria, o apoio às micro e
pequenas empresas e a ampliação da inserção do RN no comércio exterior”,
acrescentou.
Para o economista Ricardo Valério, a manutenção do crescimento do PIB potiguar depende de um setor crucial: o de energias renováveis. “Em vez de o estado ficar apenas exportando, é preciso pensar em como a energia produzida vai ser utilizada na nossa região. Um desses caminhos já começou a ser discutido, com a busca por infraestrutura como os data centers e que prometem um hub tecnológico para o RN com geração de emprego, renda e crescimento do nosso PIB”, disse.
Nenhum comentário:
Postar um comentário