terça-feira, 23 de dezembro de 2025

Comércio, serviços e eólica elevam PIB do RN em 2023, apontam especialistas

A atividade eólica ajudou a ampliar a participação de municípios como Lajes, Caiçara do Rio do Vento e Pedro Avelino no PIB | Foto: Alex Régis

Felipe Salustino
Repórter

O Produto Interno Bruto (PIB) do Rio Grande do Norte bateu recorde em 2023, com um volume de R$ 101,7 bilhões, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ainda de acordo com o instituto, juntas, Natal, Mossoró, Parnamirim e São Gonçalo do Amarante responderam por 50,8% do PIB potiguar no período. Economistas ouvidos pela TRIBUNA DO NORTE avaliam que o setor de comércio e serviços foi o principal responsável pelo resultado, com destaque também para a eólica onshore (em terra), que ajudou a ampliar a participação de municípios menores, como Lajes, Caiçara do Rio do Vento e Pedro Avelino no PIB.

Natal foi o município potiguar que mais ampliou a participação no PIB entre 2022 e 2023. A capital passou a responder por 30,63% da riqueza produzida no estado, com um Produto Interno Bruto calculado em R$ 31,162 bilhões. O avanço representa um ganho de 1,32 ponto percentual em relação a 2022, quando a participação era de 29,31%, e significa o maior crescimento proporcional registrado no período entre os municípios potiguares. É na capital onde, segundo o economista Ricardo Valério, comércio e serviços contribuíram de forma mais concentrada para os números da economia em 2023.

“Também chama atenção para essa análise o fato de que as capitais receberam maior aporte de recursos pela União naquele período para investir em melhorias de infraestrutura”, frisa Valério. Em Parnamirim, de acordo com o economista Robespierre do Ó, os serviços também foram o fator principal de contribuição para o PIB. Já em São Gonçalo do Amarante e em Mossoró, outros setores se destacaram, na avaliação do especialista.

“Em Mossoró, a gente tem a produção de petróleo, com a venda de poços maduros; enquanto em São Gonçalo, o destaque vai para a indústria e para a presença do aeroporto no município”, pontua Robespierre, ao acrescentar que, na capital, além de comércio e serviço, o turismo também tem um impacto importantes no PIB potiguar. O retrato muda quando o assunto são os municípios de menor porte, mas que também conseguiram ampliar a participação no PIB em 2023.

Estão nessa lista Lajes, Caiçara do Rio do Vento, Pedro Avelino e Macaíba. “À exceção de Macaíba, nos demais municípios a instalação de parques eólicos em terra – um dos maiores do Estado fica na região de Lajes – está entre as principais razões para o desempenho apresentado pelo IBGE”, afirma Ricardo Valério, membro do Conselho Regional de Economia do RN (Corecon).

Já entre os municípios que reduziram a participação no PIB, os destaques são Parnamirim, que apesar de estar entre as cidades que concentraram a maior parte do Produto Interno Bruto, sofreu retração de 0,50 ponto percentual, a maior do estado. Mossoró, outro município com participação importante, também registrou redução no PIB potiguar de 2023, junto a Guamaré, Serra do Mel, Macau e Areia Branca.

Para Ricardo Valério, a queda registrada em Parnamirim está ligada ao setor imobiliário. “Foi uma situação transitória de redução de velocidade do crescimento imobiliário no município. Entre 2020 e 2022 o setor se desenvolveu de forma muito acentuada, culminando em uma pequena redução em 2023, no pós-pandemia, mas que certamente está devidamente recuperado, porque, na realidade atual, Parnamirim voltou a ser um verdadeiro canteiro de obras e com crescimento vertiginoso”, analisa o economista.

Queda em commodities impacta o RN

Em Guamaré, de acordo com Valério, a retração tem a ver com as reduções de preço no refino para as commodities de petróleo e gás, conforme aconteceu, segundo ele, em outros municípios brasileiros dependentes da indústria extrativa, bem como pela queda na produção da Refinaria Clara Camarão. Em Macau e Areia Branca, a queda deveu-se à menor produção e aos preços mais baixos da indústria salineira, conforme explicou o especialista. “Importante lembrar que o Porto de Areia Branca registrou movimentação mais branda naquele ano”, disse Valério.

Em Serra do Mel, segundo ele, a questão também esteve relacionada à redução de preços, mas de um produto diferente: a castanha de caju. Mossoró teria sido afetada, diz o economista, pela baixa no setor imobiliário, assim como ocorreu com Parnamirim.

Com os novos dados, houve mudanças no ranking das maiores economias do estado. São Gonçalo do Amarante assumiu a quarta posição, ultrapassando Guamaré, enquanto Macaíba passou à sexta colocação, trocando de lugar com Assú. Macau deixou a lista dos dez maiores PIBs do RN.

Juntos, os cinco municípios com maior participação concentraram 53,3% da economia estadual em 2023. “O avanço de São Gonçalo do Amarante não deixa de ser uma surpresa, embora é notável que o município registra crescimento populacional expressivo e teve a recuperação alavancada pelo aeroporto. Em 2023, cinco municípios potiguares ficaram com PIB per capita maiores que R$ 100 mil e encabeçaram o ranking dos maiores valores. Foram eles: Guamaré, com R$ 168.808,24; Caiçara do Rio do Vento, com R$ 145.099,23; São Bento do Norte, com R$ 119.507,48; Parazinho, com R$ 109.346,87; e Bodó, com R$ 104.148,52. “O dado sobre Bodó é muito curioso, uma vez que se trata de um município com menos de 2,5 mil habitantes. O desempenho tem a ver com a exploração mineral em cima da xelita, agora de forma menor, mas principalmente por conta do caulim. E, mais recentemente, temos também a chegada das eólicas na região”, explicou Ricardo Valério.

NÚMEROS MOSTRAM DINAMISMO E solidez da economia DO RN, DIZ SEDEC

Para o secretário-adjunto de Desenvolvimento Econômico do RN, Hugo Fonseca, os números apresentados pelo IBGE apontam para o dinamismo e a solidez da economia potiguar. Segundo ele, além de turismo e serviços, o resultado foi impulsionado, sobretudo, pela indústria de transformação e pelo setor de energia elétrica e gás. “Esses setores tiveram crescimentos expressivos de 23,1% e 11,9%, respectivamente, refletindo tanto o avanço da base industrial quanto a consolidação do RN como referência na cadeia de energia, especialmente em fontes renováveis”, avaliou.

“O setor de serviços, responsável pela maior participação no PIB, também apresentou desempenho positivo, apoiado pela expansão do turismo, pelo fortalecimento do comércio e pela melhora do mercado de trabalho, com geração de empregos formais e aumento da renda. Do ponto de vista institucional, o desempenho econômico está diretamente associado às políticas públicas de desenvolvimento adotadas pelo Governo do Estado, que têm estimulado a atração de investimentos, o fortalecimento da indústria, o apoio às micro e pequenas empresas e a ampliação da inserção do RN no comércio exterior”, acrescentou.

Para o economista Ricardo Valério, a manutenção do crescimento do PIB potiguar depende de um setor crucial: o de energias renováveis. “Em vez de o estado ficar apenas exportando, é preciso pensar em como a energia produzida vai ser utilizada na nossa região. Um desses caminhos já começou a ser discutido, com a busca por infraestrutura como os data centers e que prometem um hub tecnológico para o RN com geração de emprego, renda e crescimento do nosso PIB”, disse.


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