sexta-feira, 1 de agosto de 2025

A guerra é ideológica

Na volta ao poder, depois da deprimente e dramática experiência na prisão, consequência da operação Lava Jato, o presidente Lula (PT) não teve a mesma sorte das duas passagens anteriores pelo Palácio do Planalto. Na derrota imposta a Bolsonaro, em 2022, o único chefe de Nação no Brasil não reeleito, Lula encontrou um Congresso ultraconservador, com viés bolsonarista, especialmente a Casa Alta, o Senado, recheado de senadores do PL, a maior bancada.

Na política internacional, também se deu mal. Torceu pela candidata Kamala Harris, do Partido Democrata, da sua mesma linhagem de esquerda. Foi eleito o conservador Donald Trump, do Partido Republicano, a quem o petista chamou de fascista ao longo da campanha. Lula nunca se preocupou em abrir uma interlocução com o novo presidente americano. Em seis meses de governo, Trump adotou uma postura vingativa, de perseguição ao presidente brasileiro.Agravada, neste momento, com o tarifaço de 50% aos produtos brasileiros no comércio bilateral com os Estados Unidos. 

O que se assiste, por trás desta guerra econômica, é uma guerra ideológica, de um governo de esquerda, o do Brasil, contra o um governo de direita, o dos EUA. Na sua beligerância ideológica, Trump não persegue apenas Lula. Quem for de esquerda, ganha a ira implacável do chefe de Estado mais poderoso do mundo.

Assim, Trump ampliou a ofensiva aos países da América Latina, numa tentativa de frear a aproximação da região com a China. O secretário de Estado americano, Marco Rubio, que cuida da diplomacia, é um radical de direita igual ao chefe. Abriu, há pouco, um processo judicial contra o ex-presidente colombiano, Álvaro Uribe – de direita – condenado por suborno e fraude. 

Rubio acusou magistrados, que chamou de “radicais”, de usar o Judiciário como uma arma política, afirmando que a decisão abre um precedente preocupante, postura parecida à feita por Donald Trump ao Supremo brasileiro, responsável por julgar a ação penal contra o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Orientado por Trump, Rubio também fez críticas ao vizinho da Colômbia, a Venezuela. Numa publicação oficial da chancelaria americana, disse que Nicolás Maduro não é o presidente legítimo do País e acusou o socialista de ser integrante de um cartel que atua na exportação de cocaína aos Estados Unidos e à Europa.

A agência americana de repressão a drogas ofereceu US$ 25 milhões a quem contribuir com informações que levem à prisão de Maduro. A tensão entre os líderes da América Latina e a Casa Branca tem como pano de fundo o avanço da presença chinesa na região. Sob Donald Trump, Washington tem pressionado os parceiros regionais a abandonar projetos estratégicos com Pequim. Inclusive com ameaças militares, como no caso do canal do Panamá.

IMPERADOR DO MUNDO – A deterioração das relações entre Brasil e Estados Unidos entrou num patamar mais preocupante após o governo de Donald Trump abrir uma investigação contra o que chama de práticas comerciais desleais brasileiras. A isso, soma-se a posição de Trump de defender o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e acusar a Justiça brasileira de perseguir o ex-presidente, alvo de uma operação da Polícia Federal. Em reação a Trump, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vem defendendo a “soberania” das instituições brasileiras. Em recente entrevista à imprensa americana, o brasileiro disse que Trump quer ser o “imperador do mundo”.

Haddad na linha de frente – O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem sido duro nas suas críticas à doutrina trumpista. Para ele, a postura americana radical de direita afasta ainda mais os aliados de Washington. “Eu fui designado pelo presidente Lula, durante os dois anos do governo Biden, durante os dois últimos anos, para estreitar as relações com os EUA. Eu tive inúmeras conversas com a secretária (do Tesouro Janet) Yellen, buscando parcerias com os EUA, sob alegação de que eles estavam perdendo terreno na América do Sul”, lembrou Haddad.

Por Magno Martins


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