terça-feira, 2 de setembro de 2025

Pescado do RN fica fora da lista de alimentos do Brasil Soberano

Sindipesca-RN: ausência do atum na lista do Brasil Soberano compromete produtores locais| Foto: Magnus Nascimento

O pescado potiguar, um dos principais itens da pauta exportadora do Rio Grande do Norte, ficou de fora da lista inicial de alimentos que poderão ser adquiridos pelo governo federal, estados e municípios no âmbito do Plano Brasil Soberano. A medida, regulamentada pela Portaria Interministerial nº 12 e publicada no Diário Oficial da União, prevê que o poder público compre produtos de agricultores familiares e de pessoas jurídicas que deixaram de exportar alimentos em virtude da imposição de tarifas adicionais sobre as exportações brasileiras aos Estados Unidos. Apesar da relevância do setor pesqueiro no RN, as espécies locais não foram contempladas de forma objetiva na relação de alimentos aptos às compras públicas.

O presidente do Sindicato da Indústria da Pesca do Rio Grande do Norte (Sindipesca-RN), Arimar França, ressalta que a ausência compromete diretamente os produtores locais. “Esses produtos [listados na portaria] o Rio Grande do Norte não produz. Nem corvina, nem pargo, nem tilápia. A gente produz o atum e outros peixes costeiros, que são ariocó, guaiúba, saramunete, budião e caraúna, e esses não entraram”, explica. Apesar do documento interministerial trazer a expressão “outros peixes”, Arimar explica que o atum tem uma Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM), cujo código não foi incluído no texto.

O secretário de Desenvolvimento Econômico do RN (Sedec-RN), Alan Silveira, afirma que o Governo do Estado, de forma conjunta entre as secretarias de Desenvolvimento Econômico (Sedec), Agricultura, Pecuária e Pesca (Sape), Planejamento (Seplan) e Educação (Seec), está realizando análises para a aplicação da Portaria. “A gente vem fazendo esse levantamento, esse mapeamento e discutindo essa questão de colocar esses produtos na merenda escolar”, afirma Silveira. Os outros produtos contemplados na Portaria do Governo Federal são açaí, água de coco, castanha de caju, castanha-do-pará, mel, manga e uva.

Ainda de acordo com o secretário da Sedec-RN, o governo estadual acompanha de perto a execução do programa e já iniciou um mapeamento dos itens exportados pelo RN. “Essa medida autoriza a União, os estados e os municípios adquirirem sem necessidade de processo licitatório. A gente tem alguns produtos que são exportados para os Estados Unidos, como a castanha de caju, o mel, o pescado, o caramelo e a cana-de-açúcar”, afirma.

O impacto da sobretaxa de 50% imposta pelos EUA sobre as exportações brasileiras atinge em cheio a balança comercial potiguar. O setor pesqueiro emprega entre 1,2 mil e 1,5 mil pessoas no estado. De acordo com Arimar França, metade dos trabalhadores do setor foi colocada em férias desde o início da vigência da tarifa, em 6 de agosto passado.

Como resposta ao tarifaço, o governo do RN anunciou a duplicação do valor mensal de créditos acumulados de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para empresas exportadoras, além do aumento da desoneração do ICMS às empresas beneficiadas pelo Programa de Estímulo ao Desenvolvimento Industrial do Rio Grande do Norte (Proedi).

Linhas de crédito

Para mitigar as perdas, o Plano Brasil Soberano ainda prevê linhas de crédito subsidiadas com R$ 30 bilhões do Fundo Garantidor de Exportações, diferimento de tributos, restituição de impostos via Reintegra e a autorização para que estados e municípios façam compras públicas de gêneros afetados, como forma de preservar empregos e amortecer prejuízos.

Diante do pacote federal, o setor pesqueiro aguarda a efetivação do crédito e cobra medidas estaduais semelhantes às adotadas em outras unidades federativas. “Esse crédito ainda não foi iniciado. Os bancos estão esperando a normatização do Banco Central autorizando os bancos a fazerem. Para poder ter um apoio maior, a gente está esperando a liberação de crédito”, destaca Arimar França, presidente do Sindipesca-RN.

Segundo o titular da Sedec, o Governo aposta em um programa inédito de incentivo às exportações e em negociações para reduzir os efeitos das tarifas adicionais impostas pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros. Estimativas preliminares da pasta apontam que o RN tem potencial de ampliar sua presença em até 88 países, reforçando a necessidade de diversificação dos destinos e de redução da dependência do mercado norte-americano.

As negociações incluem conversas com países da Ásia e da Europa, além de aproximações recentes com a China e tratativas para retomar o envio de pescado à União Europeia, suspenso há anos. O mapa global da Sedec aponta mais de 80 mercados já receptores de produtos potiguares, incluindo destinos estratégicos como Singapura, Espanha, Reino Unido, Colômbia, Portugal, México, Itália e Canadá.

Caso o cronograma seja cumprido, o novo programa começará a ser executado em outubro. A meta é acolher pelo menos 100 empresas.

Tribuna do Norte

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Apodi cresce e se consolida como polo populacional no Oeste potiguar

O municícpio atingiu a marca de 37.486 habitantes, um crescimento de 1.392 pessoas em apenas dois anos, já que em 2022 o Censo apontava 36.0...